quarta-feira, janeiro 30, 2008

Odisséia, XI,470-491: O discurso de Aquiles

Reconheceu-me a alma logo de Aquiles, de pés muito rápidos,
e, com sentidos queixumes,me diz as palavras aladas:
"Filho de Laertes, de origem divina, Odisseu engenhoso,
que nova empresa, infeliz, mais ousada que as outras concebes?
Como até o Hades ousaste baixar, onde os mortos se encontram,
de consciências privados, quais vão simulacros dos homens?"
Isso me disse; em resposta, lhe torno as seguintes palavras:
"Ó nobre filho do Eácida, Aquiles, primeiro entre os Dânaos!
Vim por me ser necessário pedir um conselho a Tirésias
sobre a maneira de em Ítaca alpestre chegar de tornada.
Ainda ao país dos Aqueus não fui ter, nem à pátria querida;
sim, continuo a vagar e sofrer. Mas ninguém, nobre Aquiles,
é tão feliz como tu, no passado e nos tempos vindouros.
Enquanto vivo, os Argivos te honrávamos, qual se um deus fosses;
ora que te achas no meio dos mortos, sobre eles exerces
mando inconteste; Não podes queixar-te da Morte, ó Pelida!"
Isso lhe disse; ele, logo, me volve as seguintes palavras:
"Ora não me venhas, solerte Odisseu, consolar-me da morte,
pois preferira viver empregado em trabalhos do campo
sob um senhor sem recursos, ou mesmo de parcos haveres,
a dominar deste modo nos mortos aqui consumidos."

[Tradução: Carlos Alberto Nunes]

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