terça-feira, agosto 05, 2008

Catulo, 65

Embora ilhado em mágoas, uma dor sem fim
me afaste, ó Hórtalo, das virgens doutas
nem bons frutos das Musas possa pensamento
gerar (que já flutua em tantos males
pois uma onda, há pouco manando do abismo
do Oblívio, os alvos pés banhou de meu
irmão, em quem, roubado a meus olhos, na praia
Retéia areias pesam de Tróia, ah!
Nunca mais conversar nem ouvir-te contar-me
teus feitos, nunca mais te ver, irmão
mais amável que a vida, e sempre vou te amar,
meu canto tornar triste por tua morte,
qual canta sob as sombras dos ramos tão densas -
ave - a Daulíade a gemer a ausência
de Ítilo); em tanta dor porém te envio, ó Hórtalo,
estes versos vertidos de Calímaco
por teus ditos, dispersos aos ventos volúveis,
em vão não creres voaram de meu peito,
como a maçã - furtivo presente do amante -
que cai do casto colo da menina
esquecida, coitada, do fruto escondido
entre as dobras do manto: vem a mãe,
ela salta e no chão foge o fruto, em sua face
infeliz um rubor lhe sobe cúmplice.

Tradução: João Angelo Oliva Neto

Um comentário:

Marcelo disse...

Oi, acabei de descobrir seu blog via link da wikipedia, achei sensacional. Estou pesquisando agora sobre Píndaro e Arquíloco, seu blog caiu do céu pra mim. A propósito, eu li que os salmos da Bíblia têm um caráter semelhante as odes de Píndaro, voce sabe alguma coisa sobre isso?