quarta-feira, setembro 17, 2008

Téognis, 237-250: Arte e imortalização

Eu te dei asas com as quais sobre o imenso mar
voarás, e pela terra inteira, transportado
com rapidez; em todos os banquetes e festins estarás
presente, pousado entre os lábios de muitos.
Com liras harmônicas, rapazes
amáveis, com graça, em belas melodias
te cantarão. E quando, sob as profundezas da terra sombria,
desceres à morada lastimosa de Hades,
nunca, nem morto, perderás a fama, mas serás conhecido
entre os homens, sempre com nome imortal,
ó Cirno: percorrerás a terra grega e as ilhas,
atravessarás o mar piscoso e imenso,
não montado no dorso de cavalos, mas te conduzirá
o ilustre dom das Musas coroadas de violetas.

Tradução de Daisi Malhadas e Maria Helena da Moura Neves.

quarta-feira, setembro 10, 2008

Calímaco - Epigrama 23

Disse: Sol, adeus! Assim Cleómbroto Ambraciota
jogou-se de alta muralha para o Hades.
Valor nenhum via na morte má. É que, de Platão,
um só livro (aquele sobre a alma) ele leu.


Tradução: Jacyntho Lins Brandão

terça-feira, setembro 09, 2008

Nuvens, 1360-1377

ESTREPSÍADES:
Ah,eram essas mesmas palavras que ele
dizia lá dentro, afirmando que Simônides é mau
poeta. Eu, embora a custo, apesar de tudo,a princípio
contive-me. Depois mandei-o apanhar ao menos
um galho de mirto e recitar-me alguma
coisa de Ésquilo. E ele logo disse: "Pois
considero Ésquilo o maior poeta barulhento,
incoerente, empolado, criador de palavras
escarpadas..." Pensem então como meu coração
palpitou de raiva! Todavia, depois de engolir
a cólera, eu disse: "Bem, cante alguma coisa
desses modernos, algumas dessas belezas..." E ele
logo cantou uma passagem de Eurípides - livre-nos
Deus - sobre um irmão que violentou a própria
irmã...Não me contive mais, e logo acometi
com muitas palavras más e injuriosas. Daí
então, como era natural, opúnhamos palavra a
palavra. Depois, ele dá um salto, fere-me,
espanca-me, estrangula-me e acaba comigo!

Tradução: Gilda Maria Reale Starzynski. (ARISTÓFANES. As Nuvens. São Paulo: Difel. 1967.)



domingo, setembro 07, 2008

Jabberwocky

Twas brillig, and the slithy toves
Did gyre and gimble in the wabe:
All mimsy were the borogoves,
And the mome raths outgrabe.

“Beware the Jabberwock, my son!
The jaws that bite, the claws that catch!
Beware the Jubjub bird, and shun
The frumious Bandersnatch!”

He took his vorpal sword in hand:
Long time the manxome foe he sought—
So rested he by the Tumtum tree,
And stood awhile in thought.

And, as in uffish thought he stood,
The Jabberwock, with eyes of flame,
Came whiffling through the tulgey wood,
And burbled as it came!

One, two! One, two! And through and through
The vorpal blade went snicker-snack!
He left it dead, and with its head
He went galumphing back.

“And hast thou slain the Jabberwock?
Come to my arms, my beamish boy!
O frabjous day! Callooh! Callay!”
He chortled in his joy.

‘Twas brillig, and the slithy toves
Did gyre and gimble in the wabe:
All mimsy were the borogoves,
And the mome raths outgrabe.

Tradução de Augusto de Campos:

Era briluz. As lesmolisas touvas
Roldavam e relviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
E os momirratos davam grilvos.

“Foge do Jaguadarte, o que não morre!
Garra que agarra, bocarra que urra!
Foge da ave Felfel, meu filho, e corre
Do frumioso Babassurra!”

Êle arrancou sua espada vorpal
E foi atrás do inimigo do Homundo.
Na árvora Tamtam êle afinal
Parou, um dia, sonilundo.

E enquanto estava em sussustada sesta,
Chegou o Jaguadarte, ôlho de fogo,
Sorrelfiflando através da floresta,
E borbulia um riso louco!

Um, dois! Um, dois! Sua espada mavorta
Vai-vem, vem-vai, para trás, para diante!
Cabeça fere, corta, e, fera morta,
Ei-lo que volta galunfante.

“Pois então tu mataste o Jaguadarte!
Vem aos meus braços, homenino meu!
Oh dia fremular! Bravooh! Bravarte!”
Êle se ria jubileu.

Era briluz. As lesmolisas touvas
Roldavam e relviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
E os momirratos davam grilvos.

sábado, setembro 06, 2008

Virgílio - 4º Bucólica

Ó Musas da Sicília, cantemos coisas mais elevadas.
Os arbustos e humildes tamarindos não agradam a todos.
Se cantamos florestas, que sejam as florestas dignas do cônsul.
Já chegou a última época da profecia de Cumas:
surge novamente a grande ordem da totalidade dos séculos.
A Virgem já está de volta, voltam os reinos de Saturno,
uma nova geração é enviada do alto do céu.
Tu, casta Lucina, favorece o menino que nasceu há pouco;
por causa dele, a época de ferro desaparecerá
e a geração de ouro surgirá no mundo. Apolo é quem reina agora.
Sendo tu, ó Polião, sendo tu o cônsul, a glória desta idade avançará,
e os grandes meses começarão a correr, sendo tu o chefe.
Se permanecem alguns vestígios de nossos crimes,
serão apagados e libertarão a terra de um pavor eterno.
Ele receberá a vida dos deuses e verá os heróis
misturados às divindades; ele próprio será visto entre elas
e regerá com as virtudes paternas o universo pacificado.
E para ti, criança, a terra produzirá, sem cultura alguma,
pequenos presentes: heras que vicejam aqui e ali como nardos,
colocásias misturadas ao alegre acanto.
As próprias cabrinhas trarão de volta ao lar os úberes retesados
de leite, e os rebanhos não temerão os grandes leões.
Os próprios berços produzirão para ti mimosas flores.
A serpente morrerá, e morrerá a erva enganadora do veneno;
O amomo assírio nascerá em toda parte.
E assim que puderes ler os louvores dos heróis
e os feitos de teus ancestrais, e saber o que é o valor,
aos poucos, o campo amarelará com espigas maduras,
as uvas vermelhas penderão dos espinhais incultos
e os rudes carvalhos destilarão úmidos méis.
Sobrarão, entretanto, alguns vestígios da maldade antiga,
capazes de ordenar que se afronte Tétis, com navios,
que se circundem as cidades com muros, que se abram sulcos na terra.
Haverá então outros Tífis e outra Argo que transportará
heróis escolhidos; e haverá também outras guerras
e mais uma vez um grande Aquiles será enviado a Tróia.
E então, quando a juventude já te tiver tornado um homem,
não só o comandante deixará o mar como também o pinho náutico
não mercadejará; a terra toda produzirá de tudo.
O solo não precisará suportar arados, nem as vinhas, foices;
e o labrador robusto desprenderá os jugos do touro;
a lã não aprenderá a imitar cores diversas:
o próprio carneiro, no prado, transformará seu velo
em púrpura vermelha ou em dourado açafrão;
o escarlate, espontaneamente, vestirá os cordeiros que pastam.
"Correi, séculos tais", disseram a seus fusos
as Parcas concordes com imutável desejo dos fados.
Ergue-te para as grandes honrarias - pois o tempo chegará -,
rebento querido dos Deuses, prole grandiosa de Júpiter.
Observa o universo oscilante em sua massa convexa,
as terras, as extensões do mar e o céu profundo.
Observa como tudo se alegra com o século que está por vir.
Que para mim se estenda a última parte de uma longa vida
e que o alento me seja suficiente para cantar teus feitos.
O trácio Orfeu não me venceria com suas canções
e Lino também não, embora a mãe assista àquele e o pai a este:
Calíope, a Orfeu; o formoso Apolo, a Lino.
Até mesmo Pã, se disputasse comigo, sendo a Arcádia o juiz,
até mesmo Pã, sendo a Arcádia o juiz, se declararia vencido.
Começa, pequena criança, a reconhecer tua mãe pelo sorriso
(os dez meses trouxeram longos incômodos a tua mãe);
começa, pequena criança: aquele a quem os pais não sorriram,
os Deuses não o consideram digno de sua mesa nem as Deusas de seu leito.


Tradução: Zélia de Almeida Cardoso ( NOVAK, M.L.& NERI, M.L.(org.) Poesia Lírica Latina. São Paulo: Martins Fontes. 2003)