sábado, junho 13, 2009

Édipo-Rei, 1186-1222; 1524-1530

Estirpe humana,
o cômputo do teu viver é nulo
Alguém já recebeu do demo um bem
não limitado a aparecer
e a declinar
depois de aparecer?
És paradigma,
o teu demônio é paradigma, Édipo:
mortais não participam do divino.

Com a hipérbole do arco,
lograste o plenifausto
do bom-demônio.
Por Zeus!
Tu abateste a Esfinge,
- a virgem de unhas curvas! -
com seu canto-vaticínio.
Em prol da pátria então se ergueu
uma torre contra Tânatos.
E houve o clamor (também clamei):
Basileu!
Te coube a distinção extrema:
reinar em Tebas, a magnífica!

Quem tem reputação mais triste agora?
Quem sofre tanta dor, tão dura agrura,
no revés da vida?
Ínclito chefe, Édipo!
Um só porto, um único
bastou ao pai e ao filho
no serviço das núpcias -
cair, subindo ao tálamo.
Como o campo semeado pelo pai,
silente, te acolheu por tanto tempo?

Malgrado teu,
a pan-visão de Cronos te descobre:
faz muito julga núpcias anti-núpcias -
o gerar e o gerado.
Filho de Laio,
jamais quisera ver-te!
Lamento sem limite:
da boca saem-me nênias.
Serei veraz: me deste alento,
na escuridão meus olhos adormeço.

(...)

Olhai o grão-senhor, tebanos, Édipo,
decifrador do enigma insigne. Teve
o bem do Acaso - Týkhe -, e o olhar de inveja
de todos. Sofre à vaga do desastre.
Atento ao dia final, homem nenhum
afirme: eu sou feliz!, até transpor
-sem nunca ter sofrido - o umbral da morte.

Trajano Vieira

VIEIRA, T.Édipo-Rei de Sófocles. São Paulo: Perspectiva. 2005.

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