domingo, maio 15, 2011

Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
O homem atrás do óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

domingo, maio 08, 2011

Bacantes, 1114-1152: Massacre de Penteu

Primeiro a mãe sacerdotisa inicia a matança
e ataca-o. Ele tira a mitra da cabeleira
para reconhecê-lo e não massacrá-lo
a triste Agave. Ele toca-lhe a face
e diz: "Sou eu, mãe, sou o teu filho
"Penteu, pariste-me no palácio de Equíon,
"tem-me piedade, ó mãe, e pelos meus
"desacertos, não massacres o teu filho!"
Ela escumava saliva e girava pupilas
reviradas, não sabia o devido saber,
possessa de Baco, e não a persuadia.
Ela agarra com as mãos o braço esquerdo
ao ir ante os flancos do de mau Nume,
e arranca-lhe o ombro, não por força,
mas o Deus lhe dava facilidade às mãos.
Ino pelo outro lado completava a ação
rasgando carnes, Autônoe e todo o bando
de Bacas atacava, o grito era uníssono?
ele a gemer quanto calhava ter fôlego,
elas a alaridear. Uma trazia um braço,
outra o pé com a mesma bota. Desnudavam-se
costelas por lacerações. Mãos sangrentas,
todas jogavam bola com a carne de Penteu.
Jaz disperso o corpo, ora em abruptas
pedras, ora na densa folhagem da floresta,
não é fácil de achar. A cabeça é prêmio
que a mãe por acaso recebe nas mãos,
presa na ponta do tirso como a de leão
montês ela a transporta pelo Citéron,
e deixa as irmãs nos coros das Loucas.
Corre alegre com a caça de maligna sorte
para dentro dos muros, evocando Báquio
o parceiro de caça, co-autor da captura,
o belo vencedor. Sua vitória será pranto.
Eu desembaraçado desta conjuntura
partire antes de Agave ir ao palácio.
A prudência e a veneração dos Deuses
é o mais belo e, creio, o mais sábio
modo de ser dos mortais que assim são.

Tradução de Jaa Torrano.

TORRANO, Jaa. Eurípides. Bacas. São Paulo: Hucitec, 1993