quinta-feira, outubro 31, 2013

Antologia Grega: Epigramas a uma estátua de Afrodite em Cnido

16.159 Anônimo
Quem soprou vida à pedra? Quem viu Cípris na terra?
Quem esculpiu tamanho desejo na rocha?
Decerto das mãos de Praxíteles, esta obra;ou talvez o Olimpo
careça da Páfia, já que ela veio a Cnido.

16.160 [Platão]
Páfia Citereia pelas ondas chegou a Cnido,
querendo ver uma imagem sua:
Depois de examiná-la toda em seu santuário perspícuo,
exclamou: quando foi que viu-me nua Praxíteles?
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Praxíteles não viu o que não é lícito: o ferro
moldou a Páfia, como sói o próprio Ares.

16.162 Anônimo
Cípris viu Cípris em Cnido, e disse:
Ai, ai! Quando foi que viu-me nua Praxíteles?

16.165 - Eveno
Palas e a consorte do Cronida disseram, quando viram
a Cnídia: "Culpamos injustamente o Frígio".

16.168 - Anônimo
Viram-me nua: Páris, Anquises e Adônis.
Só sei desses três; Como é que conseguiu o Praxíteles?

[Traduções: Rafael Brunhara]

sábado, outubro 19, 2013

Hino Órfico 28: Hermes

<Ἑρμοῦ>, θυμίαμα λίβανον.

Κλῦθί μου, Ἑρμεία, Διὸς ἄγγελε, Μαιάδος υἱέ,
παγκρατὲς ἦτορ ἔχων, ἐναγώνιε, κοίρανε θνητῶν,
εὔφρων, ποικιλόβουλε, διάκτορε ἀργειφόντα,
πτηνοπέδιλε, φίλανδρε, λόγου θνητοῖσι προφῆτα,
γυμνάσιν ὃς χαίρεις δολίαις τ' ἀπάταις, † ὀφιοῦχε, (5)
ἑρμηνεῦ πάντων, κερδέμπορε, λυσιμέριμνε,
ὃς χείρεσσιν ἔχεις εἰρήνης ὅπλον ἀμεμφές,
Κωρυκιῶτα, μάκαρ, ἐριούνιε, ποικιλόμυθε,
ἐργασίαις ἐπαρωγέ, φίλε θνητοῖς ἐν ἀνάγκαις,
γλώσσης δεινὸν ὅπλον τὸ σεβάσμιον ἀνθρώποισι· (10)
κλῦθί μου εὐχομένου, βιότου τέλος ἐσθλὸν ὀπάζων
ἐργασίαισι, λόγου χάρισιν καὶ μνημοσύνηισιν.

De Hermes, fumigação: Olíbano

Ouve-me, Hermes, mensageiro de Zeus, filho de Maia,
com um peito onipotente; Deus dos jogos, regente dos mortais,
benévolo astuciador, emissário Argicida [Argeifontes]
de aladas sandálias, amigo dos homens e profeta da palavra aos mortais,
tu te alegras na ginástica e em ilusões ardilosas, serpentário (5)
intérprete de tudo, fonte dos lucros, alívio de nossos cuidados,
que tem nas mãos a impecável arma da paz;
Corício, venturoso provedor de variado falar,
auxiliador dos trabalhos, amigo dos mortais em necessidade,
terrível arma da linguagem,  venerável entre os homens: (10)
Ouve as minhas preces, e fornece o nobre fim de uma vida
de trabalhos, de gráceis palavras e lembranças.

[Tradução: Rafael Brunhara]

sexta-feira, outubro 11, 2013

Mosco, 2

Ἤρατο Πὰν Ἀχῶς τᾶς γείτονος, ἤρατο δ' Ἀχώ
 σκιρτατᾶ Σατύρω, Σάτυρος δ' ἐπεμήνατο Λύδᾳ.
ὡς Ἀχὼ τὸν Πᾶνα, τόσον Σάτυρος φλέγεν Ἀχώ
καὶ Λύδα Σατυρίσκον· Ἔρως δ' ἐσμύχετ' ἀμοιβά.
ὅσσον γὰρ τήνων τις ἐμίσεε τὸν φιλέοντα,
τόσσον ὁμῶς φιλέων ἠχθαίρετο, πάσχε δ' ἃ ποίει.
ταῦτα λέγω πᾶσιν τὰ διδάγματα τοῖς ἀνεράστοις·
στέργετε τὼς φιλέοντας ἵν' ἢν φιλέητε φιλῆσθε.

Pan amou Eco, a sua vizinha, Eco amou
o lépido Sátiro, Sátiro enlouqueceu por Lide.
Pan ardia por Eco, tanto quanto Eco pelo Sátiro,
e o Sátiro, por Lide: Amor é chama recíproca;
Tanto quanto cada um deles odiava quem os amava,
era rejeitado como amante: sofriam o que faziam.
Ensino esta lição a todos os que não amam:
Gostai de quem vos ama, pois, se vós amardes, sereis amados em troca.

[Tradução: Rafael Brunhara]

quinta-feira, outubro 10, 2013

Hino Órfico 27: Mãe dos Deuses

Μητρὸς θεῶν, θυμίαμα ποικίλα.

Ἀθανάτων θεότιμε θεῶν μῆτερ, τροφὲ πάντων,
τῆιδε μόλοις, κράντειρα θεά, σέο, πότνι', ἐπ' εὐχαῖς,
ταυροφόνων ζεύξασα ταχυδρόμον ἅρμα λεόντων,
σκηπτοῦχε κλεινοῖο πόλου, πολυώνυμε, σεμνή,
ἣ κατέχεις κόσμοιο μέσον θρόνον, οὕνεκεν αὐτὴ (5)
γαῖαν ἔχεις θνητοῖσι τροφὰς παρέχουσα προσηνεῖς.
ἐκ σέο δ' ἀθανάτων τε γένος θνητῶν τ' ἐλοχεύθη,
σοὶ ποταμοὶ κρατέονται ἀεὶ καὶ πᾶσα θάλασσα,
Ἑστία αὐδαχθεῖσα· σὲ δ' ὀλβοδότιν καλέουσι,
παντοίων ἀγαθῶν θνητοῖς ὅτι δῶρα χαρίζηι, (10)
ἔρχεο πρὸς τελετήν, ὦ πότνια, τυμπανοτερπής,
πανδαμάτωρ, Φρυγίη{ς}, σώτειρα, Κρόνου συνόμευνε,
Οὐρανόπαι, πρέσβειρα, βιοθρέπτειρα, φίλοιστρε·
ἔρχεο γηθόσυνος, κεχαρημένη εὐσεβίηισιν.

Da Mãe dos Deuses, fumigação variada.

Mãe dos Deuses imortais e por eles honrada, nutriz de tudo:
peço que venhas, senhora Deusa, por minhas preces a ti;
tauricida que junge um célere carro levado por leões,
 rainha cetrada de ínclita vara, Deusa de muitos nomes, insigne
que deténs um trono no meio do cosmo e por seres a própria (5)
terra tens e ofereces nutrientes suaves aos mortais.
De ti veio à luz a raça dos imortais e dos mortais,
em ti sempre regem os rios e  o mar [thálassa] todo;
nomeada Héstia, a quem chamam dadora de riquezas
e de toda a sorte de bens, porque agracias os mortais com seus dons:
vem  ao rito, ó senhora que se compraz com tambores,
salvadora Frígia que a tudo subjuga, companheira de Crono,
filha do Céu, reverenda que cuida da vida, amante do delírio!
Vem, alegre, agraciada com a nossa piedade!

[Tradução: Rafael Brunhara]

Hino Órfico 26: Terra [Gaia]

Γῆς, θυμίαμα πᾶν σπέρμα πλὴν κυάμων καὶ ἀρωμάτων.

Γαῖα θεά, μῆτερ μακάρων θνητῶν τ' ἀνθρώπων,
παντρόφε, πανδώτειρα, τελεσφόρε, παντολέτειρα,
αὐξιθαλής, φερέκαρπε, καλαῖς ὥραισι βρύουσα,
ἕδρανον ἀθανάτου κόσμου, πολυποίκιλε κούρη,
ἣ λοχίαις ὠδῖσι κύεις καρπὸν πολυειδῆ, (5)
ἀιδία, πολύσεπτε, βαθύστερν', ὀλβιόμοιρε,
ἡδυπνόοις χαίρουσα χλόαις πολυανθέσι δαῖμον,
ὀμβροχαρής, περὶ ἣν κόσμος πολυδαίδαλος ἄστρων
εἱλεῖται φύσει ἀενάωι καὶ ῥεύμασι δεινοῖς.
ἀλλά, μάκαιρα θεά, καρποὺς αὔξοις πολυγηθεῖς (10)
εὐμενὲς ἦτορ ἔχουσα, † σὺν ὀλβίοισιν † ἐν ὥραις.

Da Terra,  fumigação: qualquer, exceto favas e ervas aromáticas. 

Deusa Terra [Gaia], mãe dos venturosos e dos homens mortais,
toda nutriz em tudo dadivosa, perfectiva destruidora de tudo,
vicejante, frutífera e florescente de belas estações,
sede do cosmo imortal, donzela de muitas cores,
que nas dores do parto concebes frutos de muitos tipos, (5)
perpétua, rica e respeitada deusa de amplo seio,
nume que se agrada com o doce sopro de multiflóreos brotos
e com as chuvas, em torno de ti o dedáleo cosmo de estrelas
revolve, com os fluxos da natureza [Phýsis] semprefluente e terrível.
Eia, venturosa Deusa, prouvera faças crescer deliciosos frutos,  (10)
com peito benfazejo, na companhia das prósperas estações.

[Tradução: Rafael Brunhara]

Ésquilo, fragmento 350*

* Conservado em Platão, República, 383 b:

{ΘΕΤΙΣ·} (Apollo in nuptiis meis cecinit) τὰς ἐμὰς εὐπαιδίας
νόσων τ' ἀπείρους καὶ μακραίωνας βίου,
ξύμπαντά τ' εἰπὼν θεοφιλεῖς ἐμὰς τύχας
παιῶν' ἐπηυφήμησεν εὐθυμῶν ἐμέ.
κἀγὼ τὸ Φοίβου θεῖον ἀψευδὲς στόμα
ἤλπιζον εἶναι, μαντικῇ βρύον τέχνῃ·
ὁ δ' αὐτὸς ὑμνῶν, αὐτὸς ἐν θοίνῃ παρών,
αὐτὸς τάδ' εἰπών, αὐτός ἐστιν ὁ κτανὼν
τὸν παῖδα τὸν ἐμόν

TÉTIS - (Apolo cantou em minhas núpcias) [que seria]  bela minha prole,
isenta de doenças e de vida longeva;
disse que meu destino era querido aos Deuses todos
e entoou o Peã, alegrando o meu coração.
E eu esperava que sem mentira fosse
a boca de Febo, de onde jorra a arte mântica:
Mas ele que cantava, ele, que estava no festim,
ele que disse essas palavras, foi ele mesmo que matou
meu filho.

(Tradução: Rafael Brunhara)

(http://primeiros-escritos.blogspot.com.br/2009/12/deslealdade.html)