terça-feira, novembro 19, 2013

Estratão - Musa Pueril (Antologia Palatina XII) I, II, IV, VI


I

Zeus é mais indicado a presidir o canto do poeta do que as tradicionais Musas do monte Hélicon, já que o deus, tendo se apaixonado por Ganimedes como conta o mito, é o modelo da relação amorosa entre homens e belos efebos. O primeiro verso do epigrama remete ao verso inicial dos Fenômenos de Arato  (Ἐκ Διὸς ἀρχώμεσθα, τὸν οὐδέποτ' ἄνδρες ἐῶμεν...). O epigrama também relembra a Teogonia de Hesíodo, uma vez que o poema abre com uma  invocação às Musas do Hélicon, em versos muito parecidos com os de Estratão: Μουσάων Ἑλικωνιάδων ἀρχώμεθ' ἀείδειν, "Pelas Musas Heliconíades comecemos a cantar". 


"Por Zeus comecemos" - como dissera Arato;
com vocês, Musas, hoje eu não me importo.
Pois se eu adoro meninos e com eles reúno-me,
O que tem a ver com isso as Musas Heliconíades?

Ἐκ Διὸς ἀρχώμεσθα, καθὼς εἴρηκεν Ἄρατος·
 ὑμῖν δ', ὦ Μοῦσαι, σήμερον οὐκ ἐνοχλῶ.
εἰ γὰρ ἐγὼ παῖδάς τε φιλῶ καὶ παισὶν ὁμιλῶ,
 τοῦτο τί πρὸς Μούσας τὰς Ἑλικωνιάδας;

II

Não procures em meus escritos Príamo nos altares,
nem as dores de Medeia e Níobe;
nem Ítis no leito ou rouxinóis nas pétalas;
isso os antigos escreveram em profusão.
Mas o doce Amor,  misturado às propícias Graças,
e Brômio: p'ra isso, rosto sério não convém.

Μὴ ζήτει δέλτοισιν ἐμαῖς Πρίαμον παρὰ βωμοῖς,
 μηδὲ τὰ Μηδείης πένθεα καὶ Νιόβης,
μηδ' Ἴτυν ἐν θαλάμοις καὶ ἀηδόνας ἐν πετάλοισιν·
 ταῦτα γὰρ οἱ πρότεροι πάντα χύδην ἔγραφον·
ἀλλ' ἱλαραῖς Χαρίτεσσι μεμιγμένον ἡδὺν Ἔρωτα
 καὶ Βρόμιον· τούτοις δ' ὀφρύες οὐκ ἔπρεπον.

IV
Assim como cita um verso de Arato em I, nos versos 5-6 deste epigrama Estratão relembra o verso 20 do fr.1 dos Aetia de Calímaco (βροντᾶ⌋ν οὐκ ἐμόν, ⌊ἀλλὰ⌋ Διός, "trovo]ar não é comigo, e sim com Zeus"), referindo-se aqui, evidentemente, não à paixão de Zeus pelos trovões, mas por meninos. No verso 8 lemos  “τὸν δ' ἀπαμειβόμενος”, "disse-lhe em resposta", expressão formular em Homero, usada para introduzir a resposta  de um herói a outro (ou, por vezes, a divergência...)

Deleito-me no viço de um rapaz de doze;
 o de treze, é mais desejável que esse;
o de catorze, mais doce que a flor dos Amores;
mais deleitável o que está chegando aos quinze;
Dezesseis, que idade divina! Mas procurar
os de dezessete não é comigo, e sim com Zeus.
E se alguém deseja um mais velho, não está mais brincando,
mas já procura por um "Disse-lhe em resposta";

Ἀκμῇ δωδεκέτους ἐπιτέρπομαι· ἔστι δὲ τούτου
χὠ τρισκαιδεκέτης πουλὺ ποθεινότερος·
χὠ τὰ δὶς ἑπτὰ νέμων γλυκερώτερον ἄνθος Ἐρώτων,
τερπνότερος δ' ὁ τρίτης πεντάδος ἀρχόμενος·
ἑξεπικαιδέκατον δὲ θεῶν ἔτος· ἑβδόματον δὲ
καὶ δέκατον ζητεῖν οὐκ ἐμόν, ἀλλὰ Διός.
εἰ δ' ἔτι πρεσβυτέρου τις ἔχει πόθον, οὐκέτι παίζει,
ἀλλ' ἤδη ζητεῖ “τὸν δ' ἀπαμειβόμενος”.

V

Adoro os pálidos, mas amo os morenos,
e os loiros também; gosto, aliás, dos de cabelos negros;
e não dispenso os de olhos castanhos, mas sobretudo
por cintilantes olhos negros eu me apaixono.

Τοὺς λευκοὺς ἀγαπῶ, φιλέω δ' ἅμα τοὺς μελιχρώδεις
καὶ ξανθούς, στέργω δ' ἔμπαλι τοὺς μέλανας·
οὐδὲ κόρας ξανθὰς παραπέμπομαι· ἀλλὰ περισσῶς
τοὺς μελανοφθάλμους αἰγλοφανεῖς τε φιλῶ.


VI

A venalidade das relações sexuais. 

"Ânus" e "Ouro" têm o mesmo número de sílabas poéticas.
Fiz a conta outro dia e descobri sem querer.

Πρωκτὸς καὶ χρυσὸς τὴν αὐτὴν ψῆφον ἔχουσιν·
ψηφίζων δ' ἀφελῶς τοῦτό ποθ' εὗρον ἐγώ.


[Tradução: Rafael Brunhara]

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