domingo, setembro 21, 2014

Marcial, 1.13

casta suo gladium cum traderet Arria Paeto,
quem de uisceribus strinxerat ipsa suis,
'si qua fides, uulnus quod feci non dolet,' inquit,
'sed tu quod facies, hoc mihi, Paete, dolet.'

Quando Árria*,casta, entregou ao seu Peto o gládio
que ela mesma arrancara das entranhas,
"se crês" - diz - "a ferida que me fiz não dói;
mas a que farás em ti, Peto, dói-me."

[Tradução: Rafael Brunhara]

* Árria, famosa personagem da cultura romana, celebrizada pela expressão "Non dolet, Paeto!" ("Não dói, Peto!"). Esposa do cônsul romano Cecina Peto, Árria viu o marido ser condenado ao suicídio após uma malograda conspiração contra o imperador Cláudio (41-54 d.C). Contudo, no último momento, o marido hesita em matar-se, e a própria Árria toma-lhe a adaga das mãos, crava-a em seu próprio peito e devolve-a ao marido, dizendo a famosa frase. Se na versão da história tal qual a encontramos na obra de Plínio o Jovem (III.16) a atitude de Árria é quase uma exortação para Peto agir como um homem, no poema de Marcial encontramos uma representação que parece antes realçar a concordância e o carinho entre um casal.

quinta-feira, setembro 18, 2014

Marcial, Epigrama 2.7

Declamas belle, causas agis, Attice, belle;
historias bellas, carmina bella facis;
componis belle mimos, epigrammata belle;
bellus grammaticus, bellus es astrologus,
et belle cantas et saltas, Attice, belle; 
bellus es arte lyrae, bellus es arte pilae.
Nil bene cum facias, facias tamen omnia belle,
uis dicam quid sis? Magnus es ardalio. 

Tu declamas e advogas belamente, Ático; 
fazes belas histórias, belos versos; 
compões uns mimos belos, epigramas belos; 
és um gramático e astrólogo belo, 
 cantas e danças, Ático, tão belamente, 
és belo na lira, belo na bola...
Já que nada fazes bem, mas tão belamente, 
sabes o que és? Um grande metido! 

[Tradução: Rafael Brunhara]

quinta-feira, setembro 11, 2014

Hino Órfico 46: Licnito

Λικνίτου, θυμίαμα μάνναν.

Λικνίτην Διόνυσον ἐπευχαῖς ταῖσδε κικλήσκω,
Νύσιον ἀμφιθαλῆ, πεποθημένον, εὔφρονα Βάκχον,
νυμφῶν ἔρνος ἐραστὸν ἐυστεφάνου τ' Ἀφροδίτης,
ὅς ποτ' ἀνὰ δρυμοὺς κεχορευμένα βήματα πάλλες
σὺν νύμφαις † χαρίεσσιν ἐλαυνόμενος μανίηισι, (5)
καὶ βουλαῖσι Διὸς πρὸς ἀγαυὴν Φερσεφόνειαν
ἀχθεὶς ἐξετράφης φίλος ἀθανάτοισι θεοῖσιν.
εὔφρων ἐλθέ, μάκαρ, κεχαρισμένα δ' ἱερὰ δέξαι.

De Licnito, fumigação:incenso

Dioniso Licnito eu invoco com esta preces,
Deus de Nisa, frondoso, desejado e benévolo Baco,
rebento amado das ninfas e de Afrodite bem coroada,
que por bosques outrora agitavas os pés nas danças corais,
com ninfas gráceis, guiado pela loucura (5)
e por desígnios de Zeus levado à pura Perséfone
que o criou dileto aos Deuses imortais.
Vem benévolo, venturoso, e aceita, grato, os sacrifícios!

[Tradução: Rafael Brunhara]

Hino a Dioniso Bassário Trienal

Ἐλθέ, μάκαρ Διόνυσε, πυρίσπορε, ταυρομέτωπε,
Βάσσαρε καὶ Βακχεῦ, πολυώνυμε, παντοδυνάστα,
ὃς ξίφεσιν χαίρεις ἠδ' αἵματι Μαινάσι θ' ἁγναῖς,
εὐάζων κατ' Ὄλυμπον, ἐρίβρομε, † μανικὲ Βάκχε,
θυρσεγχής, βαρύμηνι, τετιμένε πᾶσι θεοῖσι
καὶ θνητοῖσι βροτοῖσιν, ὅσοι χθόνα ναιετάουσιν·
ἐλθέ, μάκαρ, σκιρτητά, φέρων πολὺ γῆθος ἅπασι.

Vem, venturoso Dioniso, nascido do fogo, face de touro,
Bassário e Baqueu, todo poderoso de muitos nomes,
teu prazer são as espadas em sangue e as puras Mênades,
enquanto bradas evoés no Olimpo, louco Baco de amplo clamor
e pesada ira, o tirso é tua lança, és honrado por todos os Deuses
e morituros mortais quantos habitam a terra.
Vem, venturoso, lépido, trazendo a todos muita alegria.

[Tradução: Rafael Brunhara]

quarta-feira, setembro 10, 2014

Hino Órfico 44: Sêmele

<Σεμέλης>, θυμίαμα στύρακα.

Κικλήσκω κούρην Καδμηίδα παμβασίλειαν,
εὐειδῆ Σεμέλην, ἐρατοπλόκαμον, βαθύκολπον,
μητέρα θυρσοφόροιο Διωνύσου πολυγηθοῦς,
ἣ μεγάλας ὠδῖνας ἐλάσσατο πυρφόρωι αὐγῆι
ἀθανάτη τευχθεῖσα Διὸς βουλαῖς Κρονίοιο (5)
τιμὰς τευξαμένη παρ' ἀγαυῆς Περσεφονείης
ἐν θνητοῖσι βροτοῖσιν ἀνὰ τριετηρίδας ὥρας,
ἡνίκα σοῦ Βάκχου γονίμην ὠδῖνα τελῶσιν
εὐίερόν τε τράπεζαν ἰδὲ μυστήριά θ' ἁγνά.
νῦν σέ, θεά, λίτομαι, κούρη Καδμηίς, ἄνασσα, (10)
πρηύνοον καλέων αἰεὶ μύσταισιν ὑπάρχειν.

De Sêmele, fumigação: estoraque.

Invoco a donzela de Cadmo, rainha de tudo,
vistosa Sêmele de lindas tranças e fundos seios,
mãe de Dioniso tirsóforo bem jubiloso,
que tamanhas dores do parto sofreu por ignífero raio,
tornou-se imortal por planos de Zeus Cronida, (5)
tem honras ao lado da pura Perséfone
entre os morituros mortais a cada triênio
quando celebram o fértil parto de teu Baco,
a sacratíssima mesa e os puros mistérios.
Agora suplico-te, Deusa, donzela de Cadmo soberana, (10)
chamando-a para ser sempre branda aos iniciados.

[Tradução: Rafael Brunhara]

terça-feira, setembro 09, 2014

Hino Órfico 43: Horas

Ὡρῶν, θυμίαμα ἀρώματα.

Ὧραι θυγατέρες Θέμιδος καὶ Ζηνὸς ἄνακτος,
Εὐνομίη τε Δίκη τε καὶ Εἰρήνη πολύολβε,
εἰαριναί, λειμωνιάδες, πολυάνθεμοι, ἁγναί,
παντόχροοι, πολύοδμοι ἐν ἀνθεμοειδέσι πνοιαῖς,
Ὧραι ἀειθαλέες, περικυκλάδες, ἡδυπρόσωποι, (5)
πέπλους ἑννύμεναι δροσεροὺς ἀνθῶν πολυθρέπτων,
ἁγνῆς Περσεφόνης συμπαίκτορες, ἡνίκα Μοῖραι
καὶ Χάριτες κυκλίοισι χοροῖς πρὸς φῶς ἀνάγωσι
Ζηνὶ χαριζόμεναι καὶ μητέρι καρποδοτείρηι·
ἔλθετ' ἐπ' εὐφήμους τελετὰς ὁσίας νεομύστοις (10)
εὐκάρπους καιρῶν γενέσεις ἐπάγουσαι ἀμεμφῶς.

Das Horas; fumigação: Ervas Aromáticas

Horas, filhas de Têmis e Zeus soberano,
Bensoência [Eunomia], Justiça [Díke] e Paz [Eirene] multiafortunada,
vernais Deusas dos prados, puras e multiflóreas
em flóridos sopros, de todas as cores, de muitos odores,
Horas volventes e  viçosas sempre, de face doce,   (5)
que vestem véus feitos do orvalho de rosas virentes,
brincais com a pura Perséfone quando as Sinas [Moirai]
e as Graças cantando e dançando em roda a elevam à luz,
a Zeus agradando e à mãe doadora de frutos.
Vinde aos neófitos nos auspiciosos e consagrados ritos (10)
trazendo sem falha frutos nascentes das estações.

[Tradução: Rafael Brunhara]