domingo, janeiro 03, 2016

Li Shang-Yin: duas traduções [Sem título]

Tradução de Haroldo de Campos

Vê-la é difícil. Não vê-la, mais difícil.

Que pode o vento este contra as flores cadentes?

Bichos-da-seda se obsedam até a morte com seu fio.

A lâmpada se extingue em lágrimas: coração e cinzas.

No espelho, seu temor: o toucado da nuvem.

À noite, seu tremor: os friúmes da lua.

Não é longe, daqui ao Monte P'eng:

Aveazul, olho-azougue, fala-lhe de mim.


Tradução de Ricardo Primo Portugal e Tan Xiao

Ver-se é difícil; separar, tão mais difícil,
vem vento leste fraco, cem flores definham.
Segue bicho-da-seda à morte, o fio cessa,
vira-se a vela em cinza, e então, lágrimas secam.
Manhã no espelho, mudam cabelos de nuvem;
pela noite, a poesia e o frio -- raios de lua.
Ir até o Monte Peng é tanta distância:
- pássaro azul, à volta, vela sem descanso.

Fontes

 CAMPOS, H. "Arquitextura do Barroco" in: A Operação do Texto. São Paulo: Perspectiva. 1976.
PORTUGAL, Ricardo Primo & XIAO, Tan.  Antologia de Poesia Clássica Chinesa - Dinastia Tang, São Paulo: Editora da Unesp. 2013

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